A associação entre alimentação e saúde mental é relativamente recente. A ligação entre alimentação e saúde (neste caso entendida como ausência de doença) essa sim é muito antiga.
A saúde mental tem sido cada vez mais uma preocupação no sentido de se atingir ou manter a saúde de uma forma plena. Há uma crescente sensibilização da população para a saúde mental como sendo de extrema importância e que afeta, direta e/ou indiretamente, o estado geral de saúde.
O aumento da prevalência de depressão é uma realidade nos dias que correm. Estudos recentes indicam que a Dieta Mediterrânea, com o consumo regular de fruta, hortofrutícolas, leguminosas, frutos secos, cereais integrais, azeite virgem e peixes gordos, apresenta um efeito protetor contra as consequências negativas da depressão. Uma alimentação saudável e equilibrada é uma forma de profilaxia ou tratamento para o desenvolvimento de doenças do foro mental, promovendo maior sensação de bem-estar, melhoria do humor e mais energia.
Por outro lado, o elevado consumo de açúcar refinado para além de desregular a produção de insulina, hormona responsável pelo controlo da glicose no sangue, ativa processos inflamatórios no organismo e promove o stress oxidativo. A ingestão de grandes quantidades de açúcar afeta o funcionamento cognitivo conduzindo a situações de alteração de humor, ansiedade e depressão, fadiga, diminuição da atenção e estado de alerta.
A própria ingestão alimentar pode ser afetada pela ausência de saúde mental. Sabe-se que estados depressivos e de ansiedade podem conduzir a falta de apetite, conduzindo a défices nutricionais e/ou de peso, ou compulsão alimentar e procura incessante por alimentos que causem uma sensação de conforto imediato. No caso específico da compulsão, a procura por alimentos habitualmente ricos em açúcar vai trazer uma falsa sensação de bem-estar momentâneo (proporcionada pelo aumento da hormona serotonina) que posteriormente desencadeia reações no nosso organismo que aumentam a predisposição para ansiedade, irritabilidade, resistência à insulina e obesidade. Ou seja, um ciclo vicioso!
Na prática, que alterações alimentares são benéficas à saúde mental?
Uma alimentação baseada na dieta mediterrânea, como já foi referido, é sempre a melhor opção. Rica em vitaminas, minerais, fibra e gorduras polinsaturadas (ómega-3 e ómega-6), é uma vantagem para a manutenção de uma mente sã ou melhoria do bem-estar no caso de doença do foro mental.
Deixamos-lhe algumas dicas de como a aplicar no seu dia-a-dia:
– Aumente o consumo de hortofrutícolas e fruta: garantem o consumo adequado de vitaminas, minerais e fibra. Varie e consuma cerca de 5 porções de fruta e hortícolas por dia. Fruta idealmente em peça, com casca se possível, hortícolas em saladas, sopas ou como acompanhamento;
– Ingira alimentos ricos em ómega-3 e ómega-6: estes ácidos gordos são fundamentais para a função cerebral. Consuma de forma regular alimentos como: peixes gordos, azeite, frutos secos, sementes, abacate;
– Modere o consumo de cafeína: apesar de ser estimulante, a cafeína pode causar, após o pico de energia, sensação de ansiedade e perturbação de sono. Evite o seu consumo excessivo e próximo da hora de deitar. A cafeína está presente não só no café, mas também no chocolate, em refrigerantes, bebidas energéticas e chá;
– Beba água: a desidratação dificulta a concentração para além de poder provocar obstipação, ambas as condições devem ser evitadas em situações de saúde mental comprometida ou para prevenção de doenças do foro mental;
– Faça exercício: não se trata propriamente duma alteração alimentar, é uma alteração de estilo de vida que beneficia muito a saúde mental pela libertação de endorfinas que ocorrem durante o esforço físico que se traduzem numa sensação de bem-estar, prazer e relaxamento.
Não estamos com isto a dizer que se sofre de doença do foro mental e fizer a alimentação adequada deixará de ter necessidade de consultar um profissional de saúde. A saúde mental (ou ausência dela) depende de vários fatores que podem manter-se, independentemente das escolhas alimentares realizadas.
A intervenção multidisciplinar é fundamental. Faça alterações alimentares indicadas para a sua situação, preferencialmente com acompanhamento dum nutricionista, mas não deixe as consultas regulares com o profissional apropriado. Apenas assim conseguirá dominar os sintomas e eliminar/estabilizar a doença.